sábado, 6 de dezembro de 2014

Me dê uma mentira

“Eu não posso levar nada comigo, Jared.”
“Nem ao menos uma memória? O que você quer?”

Eu enxuguei as lágrimas com minha mão livre, mas outras tomaram o lugar rapidamente. Não, eu não podia nem levar uma memória.

“O que eu posso te dar, Wanda?” ele insistiu. Eu respirei fundo e tentei manter a voz regular.

“Me dê uma mentira Jared. Diga-me que você quer que eu fique.” Não houve hesitação dessa vez. Ele me abraçou na escuridão, firme contra seu peito. Ele pressionou os lábios na minha testa e eu sentia sua respiração movem meu cabelo quando ele falou. Melanie estava segurando o fôlego na minha cabeça. Ela estava tentando com firmeza se enterrar novamente, tentando me dar alguma liberdade nesses últimos minutos. Talvez ela estivesse com medo de ouvir essas mentiras. Ela não iria querer essas memórias quando eu me fosse.

“Fique Wanda. Conosco. Comigo. Eu não quero que você vá. Por favor. Eu não consigo imaginar isso aqui sem você. Eu não sei como…” Sua voz falhou. Ele era um bom mentiroso. E ele devia estar muito, muito seguro de mim para dizer essas coisas. Eu descansei contra ele por um momento, mas eu podia sentir o tempo me afastando. O tempo havia acabado. O tempo estava acabado.

“Obrigada.” Eu sussurrei, e eu tentei me afastar. Seus braços se firmaram. 
“Eu não acabei.” Nossos rostos só estavam há alguns centímetros de distancia, e ele acabou com essa distancia, e mesmo nessa situação, meu último suspiro nesse planeta eu não pude evitar de responder. Gasolina e chama – explodimos novamente.
Mas não era a mesma coisa. Eu conseguia sentir isso. Esse era para mim. Foi o meu nome que ele murmurou ao segurar esse corpo – e ele pensou nele como meu corpo. Eu podia sentir a diferença. Por um momento éramos somente nós ali, Jared e Wanda, ambos queimando.
Ninguém jamais mentiu melhor com o corpo como Jared mentiu nos meus últimos momentos, e por isso era grata. Eu não iria levar isso comigo, claro, pois eu não ia a lugar nenhum, mas aliviava um pouco da dor de partir. Eu podia acreditar na mentira. Eu podia acreditar que ele sentiria minha falta, tanto que minasse um pouco da felicidade. Eu não devia querer isso, mas era bom acreditar nisso mesmo assim.
Eu não podia ignorar o tempo, os segundos passando em contagem regressiva. Mesmo em chamas eu podia sentir o tempo me puxando, me sugando pelo corredor, me afastando do calor e sentimento. 
Eu consegui afastar meus lábios dos dele. Nós arfamos no escuro, nossas respirações mornas no rosto um do outro.

“Obrigada.” Eu disse novamente.
“Espera..”
“Eu não posso... Eu não consigo suportar mais.”
“Se.. se você tem certeza que é isso que você quer...” ele não continuou, inseguro.
“É o que eu preciso, Jared.”


A hospedeira

Nenhum comentário:

Postar um comentário